quinta-feira, 17 de julho de 2008


REVOLUTIONS

Fique esperto. Se você deixar, alguém lhe diz o que fazer o tempo inteirinho, da hora de acordar à hora de dormir. É a televisão, com seus comerciais tentadores e seus programas cheios de vazio,que ficam prometendo algo de bom para o próximo bloco e o próximo bloco nunca chega. É o shopping center, que esconde os cinemas lá no último andar, bem longe de um elevador que funcione, só para você ser forçado a passar em frente de cada vitrine no caminho. É o garçom, incapaz de esperar você dar o último gole no chope antes de trazer um novo. É a revista, cheia de regras de "certos" e "errados", como se ser diferente fosse doença. É o seu pai, o seu chefe, o policial, o famoso, o político, o livro de autoajuda, o moralista, o marido, a esposa, o especialista, o pregador, o jornalista.
Nada contra deixar-se levar pela correnteza de vez em quando. Cansa tomar decisões a cada cinco segundos e às vezes não faz mal relaxar o cérebro. Além disso, viver desconfiado, amargurado, procurando más intenções por trás de cada gentileza não ajuda muito a viver feliz. Enfim, não precisa brigar e esbravejar o dia inteiro. Isso só vai aumentar seu estresse e o do mundo inteiro à sua volta. Mas também não custa tocar a vida com um pouquinho de malandragem. Carregue um sorriso no rosto, trate os outros bem, seja franco, mas mantenha guardada no bolso uma pitadinha de ironia.
Minha sugestão é rebelar-se pelo menos uma vez ao dia. Pode ser passando um trote no rapaz do telemarketing que ligou às 8 da manhã do sábado. ("Bom dia, eu sou o consultor de negócios de uma operadora de telefonia...". "Sim, meia calabreza, meia mussarela, por favor". "Senhor, eu é que fiz a ligação...". "Não, não, não, sem agrião.") . Ou ainda defendendo em público o garoto tímido que está levando uma bronca injusta no meio da rua. Também serve tratar celebridades como gente comum, ser imensamente gentil com alguém louco para brigar com você, questionar regras e autoridades. Com educação, com tranqüilidade, com bom humor.
Enfim, decrete uma mini-rebelião. Imponha-se ao mundo, exponha os ridículos, posicione-se, reivindique.Nenhuma dessas atitudes, isolada, vai consertar o Brasil ou colocar a história no rumo certo.Mas também não custa acreditar no poder multiplicador dessas minúsculas revoluções. E, no mínimo, elas servem para nos apaziguar com nossas consciências.Comigo, pelo menos, funciona. Cada vez que dou um desses microgritos da independência, sinto que o peso diminui nas minhas costas. Que não sou completamente impotente diante do "sistema", do "poder", da "sociedade", da "moral", enfim, dessas coisas invisíveis às quais atribuímos a culpa por tudo que dá errado.
Aliás, acabou de me ocorrer uma coisa: neste exato momento, eu estou aqui, sentada na minha cadeira, dizendo a você o que fazer. Pô, você nem me conhece! Vai me deixar falar assim? Rebele-se!

Denis Russo
Vida Simples

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